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O FALCÃO QUE LUTOU CONTRA O VENTO  

Todos os mundos, incluindo o nosso, ficam nos galhos da árvore do mundo, Yggdrasil.

Um jotun muito velho, chamado Hræsvelgr, ou Devorador de Cadáveres, está sentado no topo da árvore sob a forma de uma águia e o bater de suas enormes asas causa todos os ventos que sopram na terra e nos mares de nosso mundo, Midgard. Quando nosso mundo era jovem, o Devorador de Cadáveres já era velho. Havia manchas falhadas em seu corpo, que surgiram porque suas penas ficaram finas com a idade. Seu corpo já estava curvado e retorcido e ele forçava a vista para conseguir enxergar para onde estava direcionando o vento de suas asas.

Aconteceu que, por causa dos olhos idosos do Devorador de Cadáveres, navios já não recebiam vento algum para suas velas. Os barcos de pescadores batiam em rochas e partiam-se em pedaços. Preciosos animais de criação dispersavam-se e perdiam-se por causa de rajadas de vento ao acaso. Casas vinham a baixo, bons solos eram levados embora pelo vento e ninguém podia prever o que os ventos fariam da próxima vez para prejudicar as vidas dos homens.

Os falcões dependem do vento mais do que tudo. Eles seguem as correntes aéreas, utilizando-as quando caçam e suas vidas dependem de seu conhecimento sobre os ventos. Mas os olhos ruins do Devorador de Cadáveres, com um direcionamento horrível, causavam ventos selvagens e imprevisíveis, fazendo com que os falcões sofressem ainda mais que os homens. Muitos falcões foram levados para longe de onde queriam estar; tornou-se impossível caçar e muitos falcões morreram de fome ou foram derrubados ao chão pelo vento e morreram. Por esse motivo, todos os falcões passaram a ficar temerosos e deixaram de alçar vôo.

Mas havia um Bravo Falcão que não temia. Ele não se importava se os ventos estavam descontrolados e indomáveis. Ele ralhou com seus irmãos covardes e lhes disse que ele iria planar, e caçar, e voar, apesar do perigo. Os outros falcões tentaram persuadi-lo a desistir dessa idéia e disseram ao Bravo Falcão: “Veja... até os homens estão se escondendo desses ventos ferozes. Eles sabem que a morte espera qualquer um que desafiar as rajadas furiosas que vem das asas do Devorador de Cadáveres. Eles não mais viajam com seus navios nem pescam em alto mar por medo do que poderá acontecer com eles. Eles pararam de construir casas, de plantar suas safras e de colocar seus animais para fora, por medo de perderem tudo o que possuem”.

O Bravo Falcão recusou-se a baixar a cabeça para o medo e disse aos outros falcões: “Não sou um falcão? Sou jovem e forte e eu pretendo voar. Não vou me acovardar diante desses ventos”. Ele alçou vôo e começou a caçar. Mas o Bravo Falcão foi esbofeteado pelos ventos; o ar batia nele e o açoitava por todos os lados. Com cada gota de força, ele lutou contra as rajadas mortais, mergulhando e pegando novas correntes quando as anteriores falhavam ou ameaçavam levá-lo diretamente para o chão. Com todas as suas habilidades e sua força, ele empenhou-se corajosamente contra as rajadas mal direcionadas que vinham das asas do Devorador de Cadáveres. Mas, após horas de luta, um vento poderoso atingiu o Bravo Falcão e o derrubou nas rochas, onde ele caiu, ferido e morto.

A Deusa Freyja, linda Freyja, assistiu à batalha corajosa do Bravo Falcão contra os ventos indomáveis. Gentilmente, ela ergueu o seu corpo morto do chão e segurou-o em ambas as mãos. “Tão grandiosos foram seu poder e seu objetivo, jovem falcão, que você deve ser recompensado com algum tipo de vitória”.

Reparar o corpo do Bravo Falcão e restituir-lhe a vida era algo simples para Freyja. Ela o colocou sobre o grande bico do Devorador de Cadáveres, exatamente entre seus olhos velhos e semicerrados.

Freyja disse ao Bravo Falcão: “Os ventos nem sempre são bondosos, mas eles também não devem causar mal o tempo todo. Fique aqui com o Devorador de Cadáveres e empreste a ele os seus olhos. Ajude-o a direcionar adequadamente o vento que vem de suas grandes asas. Os homens o chamarão de Veðrfölnir, ou o Domador dos Ventos, pois você os acalmará. Dê aos homens vento suficiente para viajarem para lugares distantes e permita-lhes que voltem a pescar, a plantar, e a construir seus lares sem a constante ameaça da morte. Para os falcões e demais aves, dê-lhes ventos que os levem para onde eles desejarem ir e que os levem em segurança até suas presas”.

Isso aconteceu muito tempo atrás. Após todos esses anos, a antiga e enrugada águia chamada Devorador de Cadáveres continua sentada nos galhos mais altos da árvore do mundo, batendo suas enormes asas e enviando ventos por todo o nosso mundo. Alguns homens sabem que um falcão chamado Domador dos Ventos está sentado no bico do Devorador de Cadáveres, porém quase todos, exceto alguns, esqueceram-se por que....

- Nota final: a fábula “O Falcão que lutou contra o Vento” não é baseada diretamente na Tradição, pois a Tradição não nos dá o porquê de haver um falcão sentado no bico da Águia, no topo de Yggdrasil, a árvore do mundo. São desconhecidos qualquer história ou mito que tenham existido entre nossos ancestrais e que tenham relação com o motivo de o falcão estar sentado lá.

Ao tentar oferecer uma explicação moderna para o mito, a fábula foi elaborada no sentido de ensinar uma lição sobre bravura e perseverança, bem como explicar, na Tradição, o nome da águia, que pode ser traduzido como “domador dos ventos”.

Como propósito desta história, nós unimos, em um único personagem, o jotun sem nome que tem a forma de uma águia no “topo de Yggdrasil” e Hræsvelgr, o jotun com forma de águia que está no “topo do céu” e que cria todos os ventos com suas asas. Apesar dos fortes paralelos entre esses dois jotuns, não há evidências conclusivas de que eles sejam uma única entidade na Tradição. -

Tradução e versão: Janaina O. Luna
Kindred Sudris Oðir Hrafnar
São Paulo, Brasil. Contato:
mane_maane@yahoo.com

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